Antigamente, acreditava-se que os transtornos alimentares só aconteciam com “uma menina adolescente”. Este não é mais o caso. Mais homens e meninos, e crianças cada vez mais jovens, estão procurando tratamento para dificuldades ou transtornos alimentares.
Você até pode ter o cuidado de não falar de dietas restritivas com seu filho. Mas frases aparentemente banais, como “olha como aquela atriz emagreceu e ficou bonita” ou “preciso muito perder alguns quilos”, são capazes de impactar o pequeno de forma mais profunda do que se imagina.
“Esse tipo de situação pode funcionar como gatilho para um transtorno alimentar aparecer”. A predisposição genética para desenvolver o problema vem em primeiro lugar. E quando falamos em criança, não é exagero. Recentemente, um estudo da Universidade Newcastle, no Reino Unido, identificou sinais de desordem alimentar em voluntários de apenas 9 anos de idade. Aos 12, esses sintomas estavam mais intensos – o que fez os autores concluírem que, quanto antes a intervenção, melhor.
A idade de início tem retrocedido cada vez mais. Existem casos na literatura médica de crianças de até cinco anos de idade que se negam a comer, recusam alimentos e vomitam voluntariamente porque tem medo de engordar. Estas crianças estão envolvidas em um meio ambiente, o qual muitas vezes, não estão somente expostos à família, muitas vezes pode ser o ambiente escolar, ou até mesmo estas crianças podem ser induzidas por um estigma da cultura do corpo. Muitos pais têm medo que a criança engorde, adotando assim, uma cultura fóbica em relação ao peso e em nome de uma alimentação saudável, restringem demais a alimentação da criança que passa a viver uma situação diferente das demais.
Muitas mães sofrem elas mesmas de distúrbios alimentares; estas mães estando em contato constante com seus filhos, podem estar transmitindo uma cultura do corpo, um medo excessivo de engordar, que pode influenciar as crianças que se tornam extremamente sensíveis a este temor. As crianças podem associar o medo com a comida e se recusarem a comer. Pode não ser a mãe, mas qualquer figura que tenha contato e influência sobre a criança. O mais importante é que quando a criança recusa comida, geralmente também recusa vínculos sociais. Se, por exemplo, uma menina, tem medo que as pessoas pensem que ela está gorda, ela poderá evitar o contato e o convívio com outras crianças, e se isolar socialmente.
O perfil psicológico de uma criança com distúrbio alimentar é basicamente o de alguém frágil em suas emoções, com grande tendência ao perfeccionismo, que nunca está satisfeita consigo mesma, e que apresenta características de uma anorexia do tipo restritivo provavelmente será um jovem e adulto com fortes tendências perfeccionistas, que sempre buscará a perfeição em tudo que fizer, mesmo que “sacrifique” a sua vida. Se existe uma tendência à bulimia, apresentará mais impulsos autodestrutivos. Ambas são personalidades em desequilíbrio, que frequentemente coexistem com uma boa inteligência, aliada a uma grande capacidade de raciocínio (são consideradas “inteligentes”). Por tudo isso, é realmente um trabalho “artesanal” equilibrá-las. E, este é um trabalho de equipe, daí a necessidade de se trabalhar não somente com uma equipe multidisciplinar (médico, psicólogo e nutricionista), mas também com os pais, com a família, com os professores; enfim com todas aquelas pessoas que tem contato com a criança.
Existem várias patologias, como a depressão, associadas aos distúrbios alimentares; é muito comum que alguns dos familiares apresentem depressão, ou algum tipo de fobia social. Muitas vezes pais com tais distúrbios, se mantém “socialmente distanciados”, o que favorece com que as crianças tenham uma dificuldade de se integrarem socialmente. Enfim, existe a necessidade de se trabalhar com a família para que eles possam reconhecer os seus próprios problemas.
O aumento de caos de transtornos alimentares em crianças de 3 a 14 anos que anteriormente só aconteciam em jovens, leva a necessidade de se elaborarem programas de prevenção primária em escolas. Segundo uma pesquisa realizada na Espanha, constatou-se que de 90.000 alunos acompanhados e pesquisados desde 1987, 12% apresentavam distúrbios alimentares, e 2% patologias.
Temos que ficar atentos em determinados comportamentos dos pequenos, como preocupação exacerbada com o próprio corpo. Vivemos hoje em meio à cultura da magreza, e os blogs e canis de youtube podem contribuir de forma negativa.
É muito comum ver festinha de aniversário em salão de beleza, por exemplo. Porém, em excesso, a vaidade tende a atrapalhar a vida de meninos e meninas. Também sabemos que crianças perfeccionistas devem ser observadas mais de perto.
Como ajudar seu filho
Caso detecte algum comportamento suspeito, como mudanças na forma que a criança se relaciona com as pessoas, alterações na dieta e um padrão de sono diferente, faz sentido buscar um especialista.
Uma dificuldade alimentar é ter uma relação ruim com a comida, que pode se manifestar por meio da recusa de eventos ou situações que giram em torno da mesa, uma preocupação exagerada com o corpo, com o peso e com calorias, além da constante alegação de falta de apetite.
Basicamente, o que poderia desencadear um possível transtorno alimentar infantil é o ambiente em que a criança ou adolescente está inserido. Primeiramente, a própria casa, mas também a escola, casa dos amigos e familiares, ou seja, onde ele gasta mais tempo.
- Enfatize a confiança da criança com relação ao próprio corpo. É importante fazer com que a criança desenvolva uma consciência corporal.
- Ensine sobre a diversidade das pessoas (pesos e alturas diferentes, não determinam quem as pessoas “são”). Cada pessoa tem seus atrativos. Cultue a ideia de que existem muitos pesos normais que estão de acordo com a idade, o peso e o sexo da pessoa.
- Estimule a individualidade: “Você e seu corpo são únicos e originais”. E “Você tem o direito de se sentir bem consigo mesmo independente do seu aspecto e peso”.
- Não defina os alimentos como “bons” ou “maus”. Com essa categorização dos alimentos você fará com que seu filho se torne vulnerável para ser um futuro candidato que irá resolver seus conflitos “emocionais com o alimento” (comendo demais ou de menos).
- Discuta sobre alimentação e nutrição em termos de “combustível do corpo”, e não em categoria “bom/mau”.
- Valorize o seu próprio corpo. Existem muitos pais que esperam que a criança tenha um comportamento “normal” e confiante em relação ao próprio corpo, quando eles mesmos não tem. Não adianta uma mãe dizer a filha o quanto ela é bonita, quando ela mesma vive se depreciando o tempo todo.
- Não deixe a criança ser manipulada por publicidades. Ensine-a ser crítica como consumidora, não deixando que ela seja manipulada por falsos conceitos de beleza e felicidade.
- Mostre para a criança que não é necessário ser “perfeito” para ser feliz, nem para ser amado.
- Faça-a entender que todos têm capacidades e limitações. E que você não espera que ela seja capaz de TUDO.
- Enfatize as qualidades dela e mostre que se sente orgulhosa
- O esporte deve ser valorizado como diversão e uma oportunidade de se socializar fazendo novos amigos; não uma prática para “perder peso”, “emagrecer”, ou “ficar em forma”.
Os adultos têm um papel importante no sentido de promover um discurso mais positivo em torno da comida. A infância e a adolescência são fases de transformações importantes, não só do corpo, mas também do ponto de vista comportamental, formação de valores e crenças.
Então, uma simples piada falando que seu filho está “gordinho” ou “barrigudo” pode ser um gatilho para um mal estar frente ao corpo e aumentar o risco de desenvolver um transtorno alimentar infantil. E essa influência acontece mesmo que o comentário ou crítica não seja direcionado a ele.
Muitos pais e mães têm um comer transtornado e levam isso para a mesa de casa…
- “Não posso comer isso porque estou de dieta”
- “Isso engorda, estou proibida de comer”
- “Se eu comer esse doce não vou mais entrar nas minhas calças”
Já falou algo parecido? Às vezes não percebemos o quanto a palavra tem poder. E crianças têm o radar ligado! Então, para prevenir um transtorno alimentar infantil, nada melhor do que mudar a abordagem e a atmosfera da casa: mudar o foco para longe do corpo ou do peso.
Reveja hábitos. Valorize a comida caseira, o hábito de cozinhar, de sentar em torno da mesa para compartilhar refeições, comendo com calma, discutindo assuntos construtivos, e não a última dieta da moda! Crianças e adolescentes precisam de comida para se desenvolver. E precisam também aprender, desde cedo, a se respeitar e ter uma boa relação com o próprio corpo para se tornarem adultos mais seguros e plenos.
Aqui estão alguns sinais de que seu filho pode ter um transtorno alimentar:
- Perda de peso rápida ou flutuações drásticas de peso
- Preocupação com peso, alimentos, rótulos dos alimentos — e dietas
- Evita refeições e situações que envolvam alimentos
- Ingestão excessiva de líquidos ou negação de fome
- Atividade física excessiva ou muito rígida
- Isolamento dos amigos e das atividades usuais
- Mudança no estilo de se vestir, como excesso de roupas para cobrir o corpo ou roupas reveladoras para ostentar a perda de peso
- Vômitos autoinduzidos ou abuso de laxantes, diuréticos ou pílulas dietéticas
Se você suspeita que seu filho pode ter uma dificuldade alimentar, tente iniciar uma conversa.
Evite fazer acusações e comece fazendo perguntas abertas como: “eu notei que você não tem comido sobremesa recentemente. Há uma razão para você estar fazendo isso?”. Pergunte o que está acontecendo e não tenha medo de falar. Às vezes, os adolescentes vão pensar: “Ninguém notou nada, então eu devo ficar bem”. Seja solidário e apoie seu filho.
Se for difícil comunicar-se com seu filho, tente perguntar aos amigos dele. Os amigos são sempre os primeiros a saber quando há um problema.
O que causa transtornos alimentares ?
Não há realmente nenhuma causa única para um distúrbio alimentar. A maioria das crianças que desenvolvem anorexia podem fazê-lo entre as idades de 11 e 14 (embora possa começar tão cedo quanto 7 anos), e há muitas razões. Algumas crianças simplesmente não se sentem bem em relação a si mesmas internamente e isso faz com que tentem mudar o “lado de fora”. Elas podem estar deprimidas ou estressadas sobre as coisas e, por isso, sentir como se elas não tivessem controle sobre suas vidas. Eles veem o que eles comem (ou não comem) como algo que podem controlar.
Às vezes as crianças envolvidas em certos esportes podem sentir que precisam mudar seu corpo ou serem magros para competir. Meninas que praticam balé, ginástica olímpica, e concursos de modelo, também podem estar mais propensas a desenvolver um transtorno alimentar. Todas essas meninas sabem que seus corpos estão sendo observados de perto, e elas podem desenvolver problemas ao tentar fazer com que seus corpos sejam mais “perfeitos”.
Fonte: GATDA